A CIDADE COMO LUGAR DO RESPEITO (É POSSÍVEL?)

Diego Montenegro
2 min readMay 6, 2021

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Toda a luta atual contra “cultura” do assédio sexual é muito válida. Mas é preciso pontuar que nossa sociedade não tem MORAL nessa luta.

Quando falo sobre “não haver moral” falo sobre não haver coerência entre comportamento e causa.

Uma sociedade que diz ser contra o assédio deveria ir além e denunciar todos os pilares sobre os quais essa cultura se ergue.

Nossa sociedade se diz anti-assédio e anti-machismo, mas considera como boa virtude e de alguma relevância cultural produzir mídias (música, séries, etc) que fazem apologia a homens objetificando mulheres, ultiziando o corpo feminino como conquista. Infelizmente as mulheres entram nessa narrativa e buscam se auto-objetificar para pertencer a essa cultura.

Nossa sociedade diz lutar pelo respeito às mulheres como seres iguais aos homens, mas insiste em comercializar mulheres, existindo assim um comércio de mulheres para os homens, seja na pornografia, seja na mídia em geral. Nossa sociedade descaradamente tenta vender essa escravidão como empoderamento!!!!

Nossa sociedade diz-se a favor do respeito à intimidade da mulher, mas celebra a exposição pública da sexualidade feminina, bem como incentiva o uso do corpo feminino como meio digno para a popularidade, ascensão midiática.

Nossa sociedade diz-se em prol do respeito à vontade e arbítrio das pessoas, mas incentiva o rompimento do lar como instância (lugar) da intimidade e glamouriza os “vídeos caseiros”, novamente, sejam de pornografia, seja a publicização da rotina dos “influencers”, sejam os vídeos das “dançarinas anônimas de Tik Tok”, feitos meio de improviso em seus lares.

Enfim, eu poderia passar horas aqui apontando mais e mais exemplos de como a nossa sociedade cava a própria cova e depois apenas acha que pode, de forma até dissimulada, protestar.

Liberdade extrema tem consequências. Não se pode implementar como ideal a busca absoluta pelos prazeres sem se arcar com as consequências.

Esse é um sintoma da vida urbana industrializada. A cidade meio que prometeu isso ao homem: liberdade e sonhos ilimitados. Liberdade das amarras dos sufocantes laços que nos prendiam uns aos outros na vida rural passada.

A vida urbana no modelo em que temos hoje relativiza a moral, minimiza a relevância da religião, antagoniza toda forma de coerção (inclusive a da família), salienta as liberdades individuais e ilude a todos fazendo-os acreditar que na cidade cada um vive sua vida e ponto.

Ocorre que isso tudo é propaganda enganosa. A cidade capitalista domina a propaganda enganosa como ninguém. A cidade é sim MUITO diferente das formas rurais anteriores ou paralelas a si. Mas ela não é diferente no seguinte fato: trata-se de uma construção social, portanto, coletiva, em que se a vontade de um sujeito é absoluta, a dos demais não pode sê-la.

A cidade do respeito que nossa sociedade diz defender começa pelo respeito ao espaço dos demais. Pelo respeito à privacidade alheia. Mas essa cidade também depende da valorização dos espaços que construímos juntos, em que a vivência só é possível se eu perceber que nem todo espaço é privado e que nem sempre minha vontade individual é soberana.

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Diego Montenegro

Esposo. Cristão Reformado. Mestre em Geografia e professor. Tentado a mostrar isso em palavras {1 Pedro 3:15}